vida pública de Jesus
‘Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João’ (Jo1,6). ‘João é cheio do Espírito Santo, ainda no seio de sua mãe’ (Lc 1,15.41).
Em João o Precursor, o Espírito Santo concluía a obra de ‘preparar para o Senhor um povo bem disposto (Lc 1,17)’ (CIC 718). João é ‘mais que um profeta (Lc 7,26). Nele o Espírito Santo conclui a tarefa de falar pelos profetas. João encerra o ciclo dos profetas inaugurado por Elias (CIC 719).
A vida pública de Jesus tem início com seu batismo por João no rio Jordão. João Batista proclamava ‘um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados’ (Lc 3,3). Uma multidão de pecadores, de publicanos e soldados, fariseus e saduceus e prostitutas vem fazer-se batizar por ele.
Jesus aparece, o Batista hesita, mais Jesus insiste. E Ele recebe o batismo. Então o Espírito Santo, sob forma de pomba, vem sobre Jesus, e a voz do céu proclama: ‘Este é o meu Filho bem-amado’ (Mt 3,13-17). É a manifestação (Epifania) de Jesus como Messias de Israel e Filho de Deus. (CIC 535).
O batismo de Jesus é, de parte dele, a aceitação e a inauguração da sua missão de servo sofredor. Deixa-se contar entre os pecadores; é já, o ‘Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’ (Jo 1,29), antecipa já, o ‘Batismo’ de sua morte sangrenta. Vem, já, ‘cumprir toda a justiça’ (Mt 5,15), ou seja, submete-se por inteiro à vontade de seu Pai: aceita por amor o batismo de morte para a remissão de nossos pecados. A esta aceitação responde a voz do Pai que coloca toda a sua complacência em seu Filho. O Espírito que Jesus possui em plenitude desde a sua concepção vem ‘repousar’ sobre Ele (Jo 1,32-33). Jesus será a fonte do Espírito para toda a humanidade. No batismo de Jesus, ‘abriram-se os Céus’ (Mt 3,16) que o pecado de Adão havia fechado.’ (CIC 536).
Os Evangelhos falam de um tempo de Jesus no deserto, imediatamente depois do seu batismo por João: ‘ levado pelo Espírito’ ao deserto, Jesus ali fica quarenta dias sem comer, vive com os animais selvagens e os anjos o servem. No final desta Permanência, Satanás o tenta por três vezes, procurando questionar sua atitude filial para com Deus. Jesus rechaça esses ataques que recapitulam as tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto, e o diabo afasta-se dele ‘ até o tempo oportuno’ (Lc 4,13). (CIC 538).
Os evangelistas assinalam o sentido salvífico deste acontecimento misterioso. Jesus é o novo Adão, que ficou fiel lá onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus se revela como o servo sofredor. O castigo que havia de trazer-nos a paz caiu sobre Ele; sim, por suas feridas fomos curados (Is 53,5b). A vitória de Jesus sobre o tentador no deserto antecipa a vitória da Paixão, obediência suprema do seu amor ao Pai (cf. CIC 717-19;735/36;738/39).
Em Nazaré ele cresceu, até o dia em que se manifestou a Israel. (Lc 1,80) Jesus deve ter recebido alguma instrução na Sinagoga de Nazaré, onde tinha o costume de fazer a leitura da Escritura (Lc 4,16). Mas nunca freqüentou uma faculdade ou fez estudos superiores. (Jo 7,15).
Jesus foi aprendendo com o povo e fazendo uma profunda experiência de Deus como Pai. ‘Depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho de Deus, e dizia: Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho’. ( Mc 1,14-15). Com essa pregação, Jesus se dirige e acolhe as "ovelhas perdidas da casa de Israel". Demonstrava uma preocupação especial pelos doentes, considerados impuros pela religião oficial. Jesus os acolhia e os curava (Mc 1,32-34).
O conteúdo principal da pregação de Jesus era o Reino de Deus (Mc 1,15;Mt 6,10. o Reino se manifesta na remissão e no perdão (Mt 6,12). Por isso mesmo Jesus valorizava a prática do perdão mútuo como sinal da misericórdia gratuita de Deus (Mt 18,21-35). (Parábola do servo impiedoso)
Sua pregação era feita segundo um método participativo, chamado “parábolas” (Mc 4,33-34). Esse método mostra que Jesus não trazia uma doutrina pronta e acabada, mas queria que as pessoas descobrissem a presença de Deus a partir das coisas simples do dia-a-dia. Esse ensinamento parecia novo aos olhos do povo que, percebendo a coerência entre o que Jesus dizia e o que ele fazia, viam que Jesus ensinava com autoridade ... (Mc 1,27
Em seus ensinamentos Jesus condenou o abuso do poder (Mc 10,42-45), a ganância (Lc 12,13-21) e a violência (Mt 5,38-40). Sua proposta foi de um caminho de vida marcado por solidariedade (Lc 10,21-22), amor (Lc 6,27).
Jesus não quis trabalhar sozinho. Seu primeiro gesto foi convocar pessoas para a missão (Mc 1,16-20). As discípulas e os discípulos que seguem Jesus são convidados para restaurar as pessoas (Lc 9,1-6). Jesus quer restaurar as casas, a comunidade familiar como lugar de convivência entre as pessoas e o próprio Deus (Mt 11,28-30). Apontando as casas como lugar privilegiado da manifestação de Deus, Jesus revela, assim, o rosto paternal e maternal de Deus entre as pessoas que se reúnem na solidariedade e na hospitalidade ao redor da mesa, partilhando os bens e a vida na perfeita alegria (Lc 5,28-29).
Durante sua vida pública, andando e pregando, Jesus também soube manter-se unido a Deus numa vida de oração. Seu contato com Deus exigia dele momentos de distanciamento, de solidão e de paz (Mc 1,35). Mas quando transbordava de alegria, Jesus entoava publicamente suas preces e seu louvor (Lc 10,21-24). Suas preces revelam sua intimidade orante com Deus revelado em seu rosto paternal. A oração do Pai-Nosso (Mt 6,9-13) aponta para um relacionamento íntimo com Deus, marcado pela simplicidade e entrega confiante.
Esse caminho, ensinado e adotado por Jesus, levou-o a um conflito com as autoridades políticas e religiosas de sua época. Os escribas, sacerdotes e líderes do povo, começaram a temer a enorme influência que Jesus passou a ter sobre o povo (Mc 3,22; 6,14;11,18; 12,12) Diante dessa crescente repressão, Jesus poderia ter fugido e preservado sua vida (Lc 13,31-33). Mas se fizesse isso, estaria traindo a Deus que lhe confiou a missão, e todas as pessoas que confiaram nele e em sua proposta, todos aqueles e aquelas que o seguiam, certos de que ele era o mensageiro da Boa Nova de Deus (Mc 6,33-34; Lc 8,1-3).
Coerente até o fim e confiante na presença de Deus, Jesus vai para Jerusalém, onde é preso, julgado e condenado. Acusado de subversão política, Jesus morre na cruz (Mc 15-25-26), castigo reservado pelo império romano aos que se levantavam contra a política imperial chamada “Paz Romana”.
Mas um pequeno grupo de mulheres que o seguia desde a Galiléia (Mc 15,40-41) passou a afirmar que este Jesus cuja vida tinha sido uma unidade única com Deus tinha ressuscitado (Mc 16,1-18; Mt 28,1; Lc 24,1-10; Jo 20,1-11). Essa experiência da ressurreição significa afirmar que a morte não teve o poder de impedir que Jesus continuasse a viver. Essas mulheres receberam do próprio Jesus a ordenação de testemunhar essa vida nova com Deus, recriando a comunidade dispersa, enfrentando o descrédito e a desconfiança de todos. Inclusive de gente que tinha seguido Jesus (Lc 24,11).
Ressurreição é o grito teimoso dessas e de todas as pessoas que seguem os passos de Jesus e percebem que uma vida assim, tão humana e solidária, é vida vitoriosa! Essas pessoas congregadas em comunidades revelam o rosto de Deus. Até hoje!
Esta foi a missão de Jesus: viver a vida de uma maneira tão humana como só Deus pode ser humano. Por isso, cada uma, cada um é chamado a fazer esta experiência de vida com Deus a partir de Jesus de Nazaré. Somos chamados a testemunhar e a proclamar: Verdadeiramente, Jesus é o Filho de Deus!(Mc 15,39)
Jesus de Nazaré: o Cristo de nossa fé
Finalmente, e assim que os cristãos verdadeiros concebem e anunciam Jesus Cristo: Jesus é a presença e a ação de Deus em nossa história. Apesar de tratar-se de um paradoxo, (opinião contrária à comum) “escândalo para os pagãos e loucura para os judeus”, como bem expressou o apóstolo Paulo (cf. 1Cor 1,20-25), afirmar que Jesus de Nazaré, o crucificado, é o Senhor ressuscitado, o Cristo de nossa fé, significa, para nós cristãos, a sabedoria de Deus.
É exatamente este o núcleo central e específico de nossa fé cristã, que diferencia o cristianismo das demais religiões e que une todos os cristãos: cremos num homem que é Deus num crucificado, que ressuscitou. Se ele é Deus, já era Deus desde sempre. Assim, cremos também num Deus que se fez homem.
Cremos num homem que amou até o fim (cf. Jo 13,1). Nossa fé é confirmada pela ressurreição: aquele que tinha tanto amor para dar (cf. Jo l5,13), como Senhor da Vida (cf. Jo 10,18), veio trazer vida em abundância (cf. Jo 10,10) e por isso não poderia permanecer na morte. Tão humano assim, só sendo Deus!
O ressuscitado não caiu do céu, não é um mito, mas alguém que morreu por uma causa, fiel a um projeto: o Reino que anunciou e iniciou.: o crucificado é o ressuscitado, o ressuscitado é o crucificado, ou seja, este homem é Deus, este Deus fez-se homem.
Crucificado-ressuscitado, homem-Deus: Jesus de Nazaré, em suma, é o Cristo de nossa fé, nosso Salvador, senhor da história. O morto está vivo, este homem é verdadeiramente Deus.